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Seja camuflar uma cervejinha e inventar despesas na conta do hotel em viagem de trabalho, ou superfaturar grandes obras e receber propinas milionárias como as investigadas na operação Lava Jato, tudo é corrupção. E apenas 3% das empresas no Brasil estão com as práticas de complience – medidas anticorrupção – totalmente implementados. Os dados são de estudo da ICTS Protiviti. “Em 48% delas, o nível de maturidade de complience é baixo. Boa parte está adotando as medidas, mas ainda têm muito a melhorar”, destaca o líder da Prática de Riscos & Compliance da consultoria, Jefferson Kiyohara.
Segundo o estudo, 71% das empresas não fazem o mapeamento de risco para identificar possíveis fontes de fraudes, 38% não possuem nenhum canal de denúncia e 39% sequer têm algum código de conduta. “As empresas têm que combinar todas as ferramentas. O primeiro passo é mapear os riscos para saber o que é mais crítica, mas apenas 29% dos entrevistados fizeram isso. Imagina se você sabe que está doente, mas não sabe o diagnóstico. Então como vai iniciar o tratamento?”, questiona.
Kiyohara lembra que, de acordo com pesquisa da ACFE, cerca de 5% do faturamento das empresas é perdido com fraude e corrupção. “Em tempos de crise, as empresas estão fazendo muitos cortes de custos, mas nem sabem dessas perdas. Esse dinheiro poderia ser investido”, pondera o executivo, ressaltando a importância de se investir em complience para detectar e evitar atos corruptos.
A criação de um código de ética e conduta interna também é apontada como um dos principais passos para blindar a empresa. “Pela pesquisa, 61% das empresas têm algum código de conduta. O número pode até parecer alto, mas, nos Estados Unidos, por exemplo, 100% das empresas possuem”, compara.
Sem regras. O professor de Ética, Gestão de Negócios e Empreendedorismo da Faculdade IBS/ FGV, Romário Vieira de Melo, destaca que a medida em que não existem regras claras morais, o ambiente de corrupção fica mais propício a crescer.
“Não são só as empresas que são corruptas. É um fenômeno humano que pode ser observado em todas as dimensões. Corrupção é quando alguém decide desviar, por conta própria ou em conjunto, bens pertencentes a outros, em benefício de si mesmo. Quando a empresa adota modelos de gestão mais focados nas pessoas do que nos resultados, esses índices tendem a ser menores”, avalia Melo.
O professor de Governança Corporativa, Ética Profissional e Auditoria do Ibmec/MG, Alexandre Queiroz de Oliveira, ressalta que o custo de implantação de programas de complience é mais alto em tempos de crise. “As empresas estão com custos maiores e margens de lucro reduzidas. Tem que ver o que é importante, pois os programas não focam na operação, mas sim na área administrativa. Não adianta investir em complience se não houver governança corporativa”, comenta.
A cada cem empresas, 38 não possuem nenhum canal de denúncias. “É um elemento muito importante no complience, pois, segundo pesquisa da ACFE, 50% das situações irregulares são identificadas a partir de denúncias”, destaca o líder da Prática de Riscos & Compliance da ICTS Protiviti, Jefferson Kiyohara. Os índices de maturidade na blindagem contra tais irregularidades é baixo, mesmo após a Lei Anticorrupção (12.846/2013). “A legislação deveria ser aprimorada. Nos Estados Unidos, por exemplo, se uma empresa for multada após investigação iniciada por alguma denúncia, parte da multa é revertida para quem denunciou”, conta.
Outra estatística negativa destacada por Kiyohara está na falta de cuidados na escolha dos fornecedores. “Apenas 32% disseram que fazem o ‘Due Dilligence de Terceiros’, que é checar a rede dos prestadores de serviços. Isso é extremamente relevante, pois se algum desses fornecedores tiver alguma prática corrupta, a empresa contratante tem responsabilidade objetiva”, destaca.
Exemplos. O professor de Governança Corporativa do Ibmec/MG, Alexandre Queiroz de Oliveira, cita alguns exemplos de práticas para combater a corrupção. “Como diz o ditado popular, a ocasião faz o ladrão. Então, no caso de receber algum fiscal da Receita ou de outro órgão do governo, não é adequado fazer isso sozinho. Alguns setores, como o de compra e venda, é mais suscetível à corrupção, então é indicado um rodízio, para que uma mesma pessoa não fique muito tempo fazendo a mesma função”, destaca. (QA)
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