Brasília, sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Francisco Dornelles
Senador pelo PP-RJ
A Secretaria da Receita Federal do Brasil anunciou o resultado dos recolhimentos de tributos de setembro último: R$ 50,2 bilhões, no conceito de receita administrada, incluindo as contribuições para a Previdência. No acumulado desde o início de 2009, foram R$ 469,9 bilhões. Em termos de variação real (usado o IPCA), houve um decréscimo de 11,4% contra a receita de igual mês do ano passado, e de 7% contra o período acumulado daquele ano.
Considero importante apontar algumas peculiaridades da receita recente, que têm em parte escapado aos analistas.
A eficiente reação do governo federal diante da crise financeira global e as peculiaridades da rápida resposta dada pela economia brasileira se refletem nos números da arrecadação. As taxas negativas apresentadas não devem assim serem vistas como motivo para maior preocupação, mas sim de conforto, pela capacidade dos contribuintes reagirem e começarem a superar a crise.
Para fundamentar essa tese, é importante tomar como base da análise os valores absolutos. Comparando o arrecadado em 2009 com o de 2008, a queda real da receita administrada em um mês foi de R$ 6,4 bilhões (setembro contra setembro) e de R$ 35,8 bilhões (acumulado janeiro a setembro).
Vejamos o que está por trás dessas variações de receita. Primeiro, as desonerações tributárias. Uma das principais reações do governo federal à crise foi reduzir ou até mesmo eliminar a cobrança de impostos. Dentre as medidas, refiro-me à mudança na tabela progressiva do IR das pessoas físicas, incluindo redução de alíquota; a redução do IPI sobre automóveis, caminhões, materiais de construção e eletrodomésticos; a aplicação de menores alíquotas de IOF sobre operações de crédito e a diminuição de Cofins/PIS para fabricação de motos e outros bens.
Segundo a análise divulgada pela Receita, o montante estimado das desonerações foi de R$ 2,2 bilhões em setembro e explica 34% da perda de receita verificada no mês; já a renúncia acumulada no ano foi de R$ 19,5 bilhões e explica 54% da perda. Tais percentuais, por si só, indicam a importância relativa das medidas sobre o comportamento da economia.
Um segundo fator a destacar envolve as compensações tributárias. Esse é um mecanismo pelo qual o contribuinte recupera o imposto que pagou a maior no passado contra um imposto que deve no presente. É natural que essa devolução de impostos cresça em períodos de crise. No acumulado do ano, a Receita informou que, no que concerne, as compensações foram de R$ 5,3 bilhões, equivalente a 15% da perda de receita no ano.
Um terceiro fato a comentar envolve o atraso no recolhimento dos tributos. É o caso do contribuinte que apura e declara, mas não paga, por falta de caixa. Na prática, a Receita Federal acaba funcionando como uma espécie de banco: em vez de a empresa tomar um financiamento bancário, de difícil acesso e caro, para pagar imposto, ela confessa que deve mas deixa de recolher. A Receita informou ontem que o saldo a pagar declarado até agosto foi de R$ 4,7 bilhões, cerca de 70% a mais que no anterior. Isso permite estimar em aproximadamente R$ 2 bilhões o aumento da inadimplência em 2009, o equivalente a 6% da perda da receita administrada no ano.
Somados os três fatores (desonerações, compensações e inadimplência), o montante estimado chega a R$ 26,8 bilhões, o que representa exatos três quartos do total de R$ 35,8 bilhões da perda de receita administrada, verificada nos nove primeiros meses do ano.
Na verdade, o montante da variação das receitas não deveria ser chamado de perda porque, se foram menos recursos nos cofres públicos, foram mais recursos disponíveis no bolso dos contribuintes, que os aplicaram na compra de automóveis, caminhões, eletrodomésticos, insumos e bens de capital, e isso fez girar a roda da economia. Estamos falando de R$ 35,8 bilhões de novos recursos, injetados na veia da economia e que a fizeram reagir antes das economias ricas, criando novas perspectivas de negócios.
Entendo, pois que, com desonerações e outras medidas concedidas pelo governo, não houve na verdade perda de recurso público mas ganho de recurso para o público, o que moveu a economia.
Fonte: Correio Braziliense – DF
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