Blog da BlueTax moderado por José Adriano
Blog da BlueTax
A Câmara dos Deputados inicia nesta quinta-feira (6/6) o terceiro passo da reforma tributária discutida no Parlamento. A Subcomissão Especial que discute o tema se reunirá às 10h para aprovar o cronograma de atividades do grupo de trabalho para discussão do combate de fraudes e sonegação fiscal. A ideia é subsidiar o colegiado de informações sobre arrecadação potencial com a guerra aos sonegadores e como fortalecer a fiscalização. Munidos dos estudos, deputados irão propor um projeto de lei de execução fiscal mais rigorosa. O coordenador do grupo, deputado Luís Miranda (DEM-DF), vai sugerir um Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que crie um tributo sobre movimentações financeiras que destinará a arrecadação à desoneração de bens e serviços. O nome sugerido por ele é o Imposto de Combate à Corrupção (ICC), mas o martelo não está batido.
Os outros dois passos da reforma tributária foram dados antes. Há duas semanas, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou a PEC 45/2019, que unifica cinco tributos em um, o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A segunda etapa — e a principal — foi dada na última semana, com o protocolamento do Projeto de Lei 3.129/2019, que corrige a tabela do Imposto de Renda reduzindo alíquotas para consumidores e empresas com tributação sobre lucros e dividendos. Na prática, a matéria propõe a correção do atual sistema tributário, que é regressivo, ou seja, em termos relativos, paga mais impostos quem ganha menos. O texto inverte essa lógica, propondo a progressividade, em que a tributação será maior sobre quem ganha mais.
O PL 3.129, de autoria de Miranda, é avaliado pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) como o diagnóstico certo para trazer Justiça fiscal ao país e abrir alas para o aumento do consumo. Por sinal, o parlamentar protocolou nesta quarta-feira (5/6) requerimento para colocar a matéria em regime de urgência urgentíssima, rito que possibilita a inclusão do texto na Ordem do Dia do Plenário. A aprovação da proposta possibilita, ainda, a implementação de um tributo de movimentações financeiras que auxilie o combate à sonegação.
Operações
A sugestão do tributo é construída a quatro mãos, entre Miranda e o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, que defende a criação de um imposto eletrônico sobre pagamentos. Miranda admite que a ideia pode ser interpretada como a recriação de uma Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A tributação teria, no entanto, uma base mais ampla, incidindo na entrada e saída do dinheiro da conta, ou seja, sobre todas operações de depósito, débitos e créditos. “O cara que tem empresa que faz caixa 2 faz movimentações em espécie. E se tributarmos qualquer movimentação financeira, seja ela qual for, conseguiremos pegar esse corrupto que pega recurso em espécie e manda fazer depósito na conta de outra pessoa. Ele terá que ser identificado e aí entra o motivo desse tributo que, na verdade, não tem a arrecadação como intuito principal”, explicou Miranda ao Blog.
O parlamentar e Cintra não chegaram a um consenso sobre qual seria o valor da taxa incidida sobre cada movimentação. “Poderia ser 0,001%, mas a arrecadação seria tão ínfima que não ajudaria em nada na desoneração do consumo”, alertou Miranda. “É diferente de eu, por exemplo, colocar um imposto de 0,20% e 0,30% e pegar a arrecadação desse recurso específico e usar ele 100% para desonerar o consumo e ir substituindo, por exemplo, o Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), como imposto federal que pesa muito, até zerar”, ponderou.
A opção por uma tributação irrisória ajudaria no combate à sonegação, que, segundo cálculos do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda (Sinprofaz), chega a cerca de R$ 500 bilhões por ano. No entanto, sem previsão legislativa, não haveria garantias de que a incorporação dos recursos atualmente sonegados desonerariam o consumo. “O governo precisaria se comprometer a fazer isso pela sociedade. O que propomos é legislar o desvio de recursos e, efetivamente, revertê-los em ampliação da demanda de bens e serviços”, sustentou Miranda. No entanto, havendo a cobrança de um ICC na ordem de 0,20%, por exemplo, o impacto poderia ser mitigado com a aprovação do 3.129/2019.
Grupo
O grupo de trabalho que discutirá o combate à sonegação será composto por alguns deputados da Subcomissão Especial da Reforma Tributária. Além de Miranda, integram o colegiado os deputados Marcelo Moraes (PTB-RS), Hercílio Diniz (MDB-MG), Celso Sabino (PSDB-MG), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), Guiga Peixoto (PSL-SP), Alê Silva (PSL-MG), Christino Áureo (PP-RJ), Mauro Benevides Filho (PDT-CE), Chiquinho Brazão (Avante-RJ), Idilvan Alencar (PDT-CE), Alexis Fonteyne (Novo-SP), Elias Vaz (PSB-GO), Rui Falcão (PT-SP), Rodrigo Coelho (PSB-SC) e Enio Verri (PT-PR).
A definição do cronograma será definida na quinta, mas a previsão é de que a primeira reunião ocorra em 12 de junho, com a presença de membros da Associação Anfip. A segunda deve ocorrer em 19 de junho, quando serão ouvidos integrantes da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco). A terceira, em 26 de junho, com a presença de representantes da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Em 3 de julho, deve ser ouvido o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra. A entrega do relatório pelos deputados participantes do grupo de trabalho deve ocorrer em 10 de julho. Todas as sessões de trabalho ocorrerão na Comissão de Finanças e Tributação (CFT).
O combate à sonegação com desoneração do consumo, amparados pela progressividade prevista pelo PL 3.129/2019, é classificado como fundamental pelo presidente da Anfip, Floriano Martins. Para ele, a PEC 45, ou seja, a simplificação tributária, é necessária, mas insuficiente para mudar o regime tributário. “Precisamos deslocar a carga tributária tirando ela do consumo e levando para a renda. Sem isso, não atingimos a principal premissa da reforma tributária, que é pensar no desenvolvimento econômico, com geração de emprego, renda e bem-estar social”, destacou ao Blog.
Fonte: Correio Braziliense
Comentar
© 2025 Criado por José Adriano. Ativado por
Você precisa ser um membro de Blog da BlueTax moderado por José Adriano para adicionar comentários!
Entrar em Blog da BlueTax moderado por José Adriano