Carrefour admite rombo de R$ 1,2 bi em operações no Brasil


A rede varejista francesa Carrefour anunciou na terça-feira que os gastos extraordinários com erros nas práticas contábeis de suas operações no Brasil vão atingir este ano algo próximo a R$ 1,2 bilhão (€ 550 milhões), após o encerramento dos processos de auditorias interna e externa, coordenada há cinco meses pela KPMG.

Isso representa praticamente o triplo da estimativa inicial divulgada em outubro pela companhia, que superava os R$ 400 milhões (€ 180 milhões). A empresa investiga ainda a existência de possíveis responsáveis.

Entre os problemas identificados pelas auditorias estão erros no recebimento de "bonificações do varejo", que são valores pagos pela indústria aos supermercados, como forma de desconto na aquisição de mercadorias, que o Carrefour estava reconhecendo no balanço financeiro, mesmo sem ter realizado efetivamente a totalidade das vendas. A auditoria apontou ainda problemas "de ajustes de depreciação e inventário e provisões para litígios trabalhistas e fiscais".

"O que aconteceu no Brasil foi claramente um mau funcionamento", afirmou o executivo-chefe do Carrefour, Lars Olofsson, durante teleconferência com analistas e investidores, segundo a agência Dow Jones. "Estamos determinados a fazer o que for preciso para chegarmos ao fundo do que eu classifiquei como má administração." Segundo ele, os valores resultaram de problemas acumulados ao longo dos últimos cinco anos.

Os executivos do Carrefour anunciaram ainda a redução em € 130 milhões da expectativa de lucro operacional em 2010, para € 3 bilhões. Essa retração leva em consideração não só os encargos extraordinários das operações brasileiras, mas também o "ambiente econômico e competitivo persistentemente difícil" na França, as duras condições econômicas do Sul da Europa, particularmente na Itália, na Espanha e na Grécia, além de excluir do cálculo a contribuição financeira das operações da Tailândia, que foram vendidas em novembro.

Mesmo com o prejuízo nas operações brasileiras, o Carrefour garante que não pretende deixar o País e priorizará a expansão de lojas com formatos menores e da rede Atacadão. A empresa pretende ainda converter alguns hipermercados Carrefour para lojas do Atacadão, rede adquirida em 2007. "O Brasil é um mercado prioritário, em que temos uma posição de liderança e confiança na equipe", afirmou Olofsson.

Nos últimos cinco meses, a empresa informou que acelerou a expansão do Atacadão, com a abertura de sete novas unidades e a transformação de um hipermercado, em São Miguel (SP) para Atacadão. A empresa inaugurou ainda um hipermercado Carrefour em Belo Horizonte (MG).

Essa não foi a primeira vez que o Carrefour revisou a provisão para despesas extraordinárias no Brasil, que serão reconhecidas como receitas não operacionais. Em outubro, a companhia elevou este montante de € 90 milhões para € 180 milhões, diante dos primeiros resultados da auditoria. Todos esses problemas provocaram a troca do comando de suas operações, que desde julho pertence ao executivo brasileiro Luiz Fazzio, substituto do francês Jean Marc Pueyo.

Vendas

Além dos problemas contábeis, a rede enfrenta dificuldade com as vendas de seus hipermercados, que apresentaram queda de 0,8% nas lojas com mais de um ano de funcionamento no terceiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. Os resultados do Carrefour no Brasil foram compensados pelo desempenho das lojas da rede Atacadão, que avançaram 12,8% no conceito mesmas lojas no terceiro trimestre.

Em comunicado, a empresa informou que, nos últimos cinco meses, reestruturou a equipe comercial, com a contratação de executivos do mercado nacional e internacional, e implementou novas ferramentas de gestão. A empresa revisou também procedimentos internos, com a utilização de novos sistemas de controle, "seguindo as novas políticas de governança corporativa do grupo".

Dentro desse processo de reestruturação, vários executivos, além de Pueyo, deixaram a empresa. Entre eles estão Manoel de Araújo, diretor comercial de alimentos; Pedro Magalhães, diretor financeiro; Roberto Britto, diretor geral do Atacadão; e o francês Eric Reiss, diretor de hipermercados.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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