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O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) vai formar um grupo de trabalho para analisar o envolvimento das empresas de auditoria e dos contadores no escândalo do Banco PanAmericano.
"Temos observado a menção na imprensa sobre a possível participação das auditorias e do contador do banco em uma fraude", disse Juarez Domingues Carneiro, presidente do CFC, em entrevista por telefone. "Temos o dever de apurar o que está acontecendo."
O grupo de trabalho, com base no Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo, deve enviar um pedido de informação às firmas de auditoria Deloitte e KPMG e aos profissionais envolvidos.
Segundo Carneiro, esse é procedimento padrão usado para se iniciar uma investigação. Com base nesse pedido, pode ser aberto um processo administrativo e ético.
O CFC tem competência para fiscalizar o exercício da profissão e pode, em caso de falta grave, cassar o registro do contador.
O mesmo procedimento de pedido de informações foi feito recentemente para o caso da concorrência do Banco do Brasil, disse Carneiro.
Num leilão realizado no fim de outubro, KPMG, Ernst & Young Terco e PwC disputaram a conta de auditoria externa do banco. A última desistiu e as duas primeiras mantiveram uma batalha de lances que derrubou os preços em 99,5%.
A KPMG conseguir manter o contrato por R$ 95 mil - comparado a R$ 19,6 milhões de sua proposta inicial e R$ 6,5 milhões do contrato anterior.
O valor, cerca de R$ 3 por hora, não cobre os custos orçados pela empresa nos documentos enviados ao banco.
Para Carneiro, o "aviltamento dos honorários afeta a imagem da profissão" e pode ter consequências na qualidade dos serviços.
A divulgação do resultado da concorrência causou revolta entre os auditores, principalmente os de empresas de menor porte.
Ele também ataca a forma que foi feita a escolha. "Não tem cabimento esse tipo de licitação [pregão eletrônico] para contratar auditor", diz. "É um serviço qualificado."
A assessoria do Banco do Brasil informou ao Valor que esse tipo de licitação é uma exigência da lei.
Ana María Elorrieta, presidente do Ibracon, órgão que representa os auditores independentes, diz que não comenta casos específicos, mas também se coloca contra o pregão eletrônico. "Precisamos encontrar uma maneira de mudar essa situação", afirma.
Tempos difíceis voltam para as firmas de auditoria
Os tempos difíceis voltaram para as firmas de auditoria. É quase um movimento cíclico. Quando uma delas cai, é difícil evitar uma contaminação, e as perguntas de praxe, "para quê serve auditoria?", "onde estava o auditor?" etc. voltam a compor o repertório da imprensa.
A Deloitte, uma das quatro maiores do mundo no setor, está sob fogo intenso, mas não se sabe ainda se pelos motivos certos. A firma foi acusada em letras garrafais de ter maquiado o rombo do Banco PanAmericano. Pela lógica dos negócios, seria uma coisa muito estúpida de se fazer. As auditorias só têm uma coisa a perder: o nome. Não faz sentido encobrir uma fraude num banco pequeno no Brasil e colocar em risco uma marca mundial que vale bilhões de dólares.
"A administração é responsável pela elaboração das demonstrações financeiras, não a auditoria", diz Ana María Elorrieta, presidente do Ibracon, instituto que representa os auditores independentes. "O auditor também tem responsabilidades, mas não é ele que gera a informação financeira."
Todas as auditorias têm histórias para contar. Estão na linha de frente e, geralmente, são o bode expiatório de uma análise simplista. Não, eles não são agentes da polícia vigiando executivos escroques. Mas têm o dever de chamar a polícia se esbarrarem numa fraude. Mais que isso: têm que se preparar para encontrar a fraude.
É o que rezam as normas internacionais de auditoria, um avanço em relação à postura de outros tempos em que o profissional limitava-se a checar se os números estavam de acordos com os padrões de contabilidade.
E esses padrões, por sinal, também estão mudando, mas o Banco Central insiste em deixar para amanhã a padronização que colocaria no balanço bilhões em empréstimos que atualmente só aparecem em notas explicativas. "A reticência em mudar os procedimentos contábeis atrapalha", diz Guy Almeida Andrade, membro do Ifac, a federação internacional dos contadores. "Vários bancos pequenos estão na mesma situação."
As auditorias podem, sim, ter voltado a gostar de risco. Depois de anos de crescimento acima dos dois dígitos, os auditores - que fazem também as vezes de consultores - parece que se esqueceram do pesadelo do começo dos anos 2000, quando a americana Enron quebrou, em meio a uma fraude bilionária, e levou junto uma das então cinco grandes do setor, a Arthur Andersen.
A repercussão foi devastadora. A lei caiu pesada sobre a cabeça de todos, a autorregulação se foi, as remanescentes entre as grandes, com exceção da Deloitte, venderam suas áreas de consultoria de sistemas, suspeitas de causar um conflito de interesses - a Andersen recebia mais da Enron pelas consultorias do que pela auditoria dos balanços.
Dez anos depois, todas voltaram a investir no negócio. Os controles internos, alegam os executivos, são mais rígidos, o que evitariam os conflitos do passado. Difícil saber. Transparência ainda é um tabu para as auditorias.
Agora, o PanAmericano dá outra lição. "Qualquer análise ainda é muito prematura", diz Ana Maria. "Não sabemos as circunstâncias".
Porém, admite, a profissão sai abalada, e terá que trabalhar para recuperar a confiança.
A Deloitte foi procurada, mas não quis se pronunciar. (NN)
Fonte: Valor Econômico
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