O mercado para profissionais de compliance está aquecido, e a previsão para 2017 é que a temperatura continue alta.

As oportunidades oferecidas pelo mercado para profissionais de compliance seguem em clima tropical, ou seja, muito quente. E as oportunidades para quem se especializar na área devem continuar esquentando, mesmo com a crise econômica ainda prejudicando os resultados das empresas e o mercado de emprego. O ano de 2016 tem se mostrando muito positivo para a área, por conta do grande número de empresas que iniciaram ou avançaram na implementação de medidas mais estruturadas de compliance. Para Carlos Ayres, sócio de Compliance do Trench, Rossi & Watanabe, um dos principais escritórios de advocacia do Brasil, a crescente cultura de compliance vai resultar em um mercado forte, consolidado e com mais espaço ainda para profissionais especializados. Confira na entrevista abaixo.
LEC: De uma maneira geral, como foi o ano de 2016 para o mercado de compliance no Brasil?
Carlos Ayres: O ano de 2016 foi um ano de crescimento da área de compliance. Diversas empresas, pelo menos na minha percepção, ou criaram ou expandiram suas áreas neste ano. Então, o compliance tem sido importante por diversos fatores. O primeiro é que multinacionais exigem de seus parceiros programas de compliance como condição para fazer negócios. No caso de um fundo de investimento, é condicionado o aporte à existência da área na empresa. Então esse é um movimento que vem crescendo no Brasil. A execução da lei tem sido feita de uma forma rigorosa. No ano o mercado cresceu e tende a crescer também em 2017. Acho que é um caminho sem volta, parecido com o que aconteceu nos Estados Unidos há 10 anos.

E qual a tendência para 2017?
É uma área que vem crescendo pela preocupação das empresas mas também pela conscientização de que os benefícios de fazer a coisa certa podem ser trazidos para a empresa. Ainda tem um espaço para oportunidade de diversas empresas que não tinham compliance. Muitas até recentemente o viam como um custo e, a partir do momento que eles estão perdendo negócios, porque não têm um programa ou não agiram de forma ética, estão passando a implementar seus programas também. E outras empresas que não têm envolvimento com irregularidades viram no compliance uma oportunidade de ter um diferencial competitivo.

De que forma a crise econômica que passamos impactou o mercado?
É difícil dizer, porque eu não tenho números quanto ao possível impacto. Mas eu acredito que, de certa forma, sim. Muitas empresas fecharam ou reduziram bastante a sua operação, então isso certamente acaba tendo um impacto não só na área de compliance mas em diversas áreas das empresas como um todo. Por outro lado, mesmo em tempos de crise, eu vi várias empresas contratando profissionais para essa área. Então acho que foi uma das poucas áreas dentro da atuação das empresas que ainda teve seu budget preservado e contratou gente. É difícil dizer, o impacto certamente teve, mas é uma área que continua tendo sua importância dentro das empresas.

O crescimento da área, bem acentuado entre 2014 e 2015, se manteve ou foi alterado de alguma forma?
Eu diria que houve um crescimento ainda maior no ano de 2016. Pelo menos aqui no escritório tenho visto dessa forma. O próprio cenário do Brasil contribui para isso. A aplicação das leis chama atenção das empresas para o tema e quantidade de seminários e de eventos mostra a relevância que o assunto tem ganhado no mercado. Lembro que quando eu comecei a atuar com compliance há 10 anos, a gente podia contar na mão quem estava atuando na área. Isso mostra esse crescimento que tivemos de 2008 para cá.

Você acredita que agora, com uma nova leva de prisões relacionados a outros casos além da Petrobras, teremos um impulso a mais no mercado, aumentando a demanda?
Olha, eu acho que todos esses casos que estão acontecendo não tem um impacto direto, acho que é um cenário como um todo. O Brasil já vem fechando o cerco com relação à corrupção há bastante tempo. Depois, no começo dos anos 2000 e 2010 para cá, vimos uma pressão bem grande das empresas multinacionais sobre seus parceiros comerciais no Brasil para que implementassem compliance. Depois teve a Lei 12846 em 2004, que passa a dar crédito para as empresas que tem um programa de compliance e que eventualmente se encontrem numa situação que algum funcionário ou parceiro cometeu um ato ilícito. Então vejo como um movimento conjunto e não um único fator responsável pelo crescimento de compliance nos últimos anos. É uma série de fatores.

O grande volume de investigações envolvendo casos de corrupção é mais fruto do aumento de uma cultura de compliance no Brasil do que uma causa?
Eu acho que esses casos todos que a gente teve de combate à corrupção no Brasil são a demonstração de que as instituições brasileiras estão levando a sério, investigando, apurando a fundo as alegações. Então, a gente teve… e não é de hoje. Se a gente olhar, por exemplo, o número de pessoas presas por atos de corrupção no Brasil entre 2008 e 2012 cresceu em 133%. E a gente não está nessa época, falando dessas grandes operações que temos hoje. Então tem isso, tem a própria transparência. Hoje, qualquer pessoa pode acessar no site da Transparência os gastos públicos praticamente em tempo real. Isso facilita o controle social e da imprensa e a aprovação de novas leis que suprem as lacunas ainda existentes. Então você tem transparência, aplicação de uma forma dura, tem uma nova lei que também é dura, mas que passa a dar crédito pela existência do compliance. São vários fatores que, junto, dão uma impulsionada nos últimos anos.

Para um advogado que quer entrar no setor, vale a pena investir em um curso de especialização?
Acho que é fundamental que quem deseja atuar na área já tenha uma qualificação. Por via de regra, nas grades curriculares, não existem matérias de compliance, então é importante que o pessoal busque qualificação. Existem cursos no mercado que proporcionam isso, portanto é importante que o profissional busque essas qualificações para atuar. Muitas vezes o que eu vejo nos cursos em que eu dou aula é que tem muita gente que assume essa responsabilidade. O Diretor Jurídico ou o Diretor Financeiro passam a atuar como Compliance Officer, mas não sabem exatamente o que é e até os próprios riscos aos quais ele está sujeito. Muitas vezes as pessoas olham para o aspecto financeiro dos salários atrativos, mas tem um ônus que vem junto. Mas esse potencial do curso ajuda muito no desenvolvimento das pessoas que querem atuar na área. Tive alunos até que estavam em uma posição confortável em outra área. Tive uma aluna que tinha uma posição estabelecida na área tributária, gostou de compliance e resolveu mudar. Largou tudo e foi para o compliance. Teve que dar um passo para trás, mas hoje está superbem. Acho que é uma área que tem uma oportunidade enorme para os profissionais que querem atuar, mas, de novo, precisa estudar e adquirir conhecimento, seja por cursos ou lendo material específico. Tem bastante espaço para quem quiser se desenvolver nessa área.

Fonte LEC News via https://www.facebook.com/lecnews/posts/1286339014740589

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