IFRS - Breve História da Contabilidade Internacional

Vamos falar de uma fascinante disciplina chamada Contabilidade Internacional, tema de discussões permanentes na Fundação Santo André. Naturalmente, do mesmo modo que os negócios ganharam dimensões internacionais ao longo da história, a contabilidade também se desenvolveu. Como exemplo, o crescimento do comércio internacional na Itália no fim da Idade Média (e o desejo do governo de encontrar uma maneira para cobrar impostos pelas transações comerciais) levou à criação da escrituração contábil de partida dobrada, surgida em Veneza em 1942.

Desde então, e em ritmo acelerado, as questões contábeis tornaram-se mais complexas. Nos idos de 1870, diante da crescente evolução de suas atividades comerciais, o império britânico constatou a necessidade de administrar e controlar as empresas nas colônias, por meio da revisão e verificação dos registros. Essa situação fez surgir uma profissão contábil pública organizada na Escócia e na Inglaterra. Desde então, há uma interação mútua entre auditores e consultores para encontrar procedimentos e técnicas contábeis que permitam a revisão e o relato de demonstrações financeiras precisas e compreensíveis.

Além disso, o advento tecnológico possibilita que as informações sejam registradas, transmitidas e revisadas com velocidade e precisão inimagináveis anos atrás. A internet, algo ainda desconhecido no início dos anos 90, hoje é indispensável para a obtenção de informações financeiras internacionais.

Paralelamente, percebeu-se que a contabilidade não atende somente aos interesses de gerentes e proprietários. Governos, grupos de consumidores e de mão de obra, ambientalistas e outros ativistas sociais e credores têm interesse nas atividades comerciais e precisam também ter acesso a dados financeiros precisos. O crescimento explosivo de transações no Exterior e o rápido aumento de companhias que buscam capital em mercados estrangeiros fizeram dos problemas contábeis internacionais um fato comum na vida das pessoas.

Contas chinesas

Na arena da contabilidade global, a China é um importante personagem. No início de 2006, o Ministério das Finanças propôs uma nova normatização contábil para as empresas. Foram emitidos 39 pronunciamentos conhecidos como Accounting Standard for Business Enterprises. Enquanto o sistema antigo tinha como peça central a receita, os novos padrões introduzem o conceito da mensuração pelo Valor Justo, o que significa um relatório financeiro baseado mais no Balanço Patrimonial, assemelhado às IFRS e absorvendo experiências dos países desenvolvidos. No entanto, isto não deve ser entendido apenas como uma reprodução das IFRS, já que as características econômicas do país, em estágio de transformação, foram cuidadosamente levadas em consideração.

Atingir a convergência é mais do que um passo à frente para tornar a cadeia das informações contábeis mais eficientes e garantir que, futuramente, haja uma melhora geral da auditoria na China. Tal convergência, efetivada em 1º de janeiro de 2007, contribuiu para promover uma reforma nas relações de negócios. Os benefícios são facilmente identificáveis. Primeiramente, as medidas ajudaram a garantir uma abertura positiva para a China, desenvolveram o mercado de capitais e criaram um modelo de competitividade internacional das empresas locais.

As novas normas que convergem para o IFRS, com a adoção de uma linguagem de negócios geralmente aceita ao redor do mundo, auxiliam os usuários das informações financeiras a não ficarem "presos" a aspectos e buracos consequentes das discrepâncias dos antigos sistemas ou padrões. Tal procedimento facilita a comparação dos dados contábeis entre os países, torna as informações mais confiáveis e compreensíveis, além de possibilitar relações sem fronteiras das empresas chinesas.

O novo padrão evidencia os impactos de fatores micros e macros nas entidades. Dessa forma, revela impactos potenciais das renovações financeiras do mercado, o que significa uma maior eficiência de preços e alocação de recursos no mercado de capitais. É possível ainda traçar uma análise mais compreensiva e completa das posições financeiras, aprimorando os controles internos. Esse modelo é mais robusto em termos de reconhecimento e mensuração contábil, com uma apresentação mais didática. Para as companhias listadas, esta implantação ajudou a tornar as informações mais transparentes e qualificadas.

Um país varia em relação aos outros em ambiente econômico, sistema legal, conceitos culturais, nível de regulamentação, usuários da informação contábil, qualidade e competência dos profissionais da contabilidade. Por isso, a convergência não pode ser atingida sem que tais características e condições sejam consideradas. Além disso, convergência leva tempo. Para tanto, faz-se necessário um aprendizado que desenvolva a diversidade universal.

Ao mesmo tempo, convergência significa interação. Não é um movimento em uma só direção, mas sim um processo de comunicação e constante aprendizado mútuo entre países e as organizações contábeis – o que exige um alto nível de normas para os profissionais de finanças corporativas das empresas.

Jairo da Rocha Soares é sócio de auditoria da BDO RCS e professor de Contabilidade Internacional da Fundação Santo André 

 

 

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