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Professor de Berkeley e especialista em bancos centrais, Eichengreen diz que Brasil age bem ao desvalorizar o real Consumo interno da China está caindo e esfriamento asiático é maior que o anunciado, afirma pesquisador
MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO A desaceleração da economia brasileira é temporária, e a atividade deve recuperar velocidade no ano que vem e alcançar um crescimento de até 4%, se o cenário externo ajudar, prevê o economista americano Barry Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia (Berkeley). Um dos principais especialistas em sistemas monetários do mundo, ele diz que a redução do crescimento na China foi o principal motivo para a parada da economia brasileira. "Um crescimento de 1,5% [para o Brasil] não é bom, não é suficiente para continuar retirando pessoas da pobreza, mas não é negativo diante da crise financeira atual", afirmou Eichengreen, em entrevista à Folha. O economista observa que a China desacelerou muito e rapidamente, o que afetou os preços das commodities vendidas pelo Brasil no exterior. "E os europeus e os americanos não ajudaram", afirma. O país asiático vinha crescendo a taxas acima de 10% e, neste ano, a projeção de analistas é que alcance um crescimento de 7,5%. Eichengreen traça um cenário ainda mais negativo para o nosso principal mercado consumidor. Ele suspeita que a China esteja esfriando num ritmo ainda mais veloz que o estimado. "O consumo doméstico chinês está caindo, está negativo. Isso sugere que a economia está ainda pior do que os números oficiais indicam." BC NO RUMO CERTO Para o Brasil, Eichengreen faz elogios à condução da política econômica. E afirma que o Banco Central está "no caminho certo" quando atua no mercado forçando uma desvalorização do real em relação ao dólar. "Quando a moeda está sobrevalorizada, como no ano passado, as pessoas reclamam que o Banco Central não faz o suficiente. E, quando a desvaloriza, reclamam que ele faz demais", disse. Eichengreen faz parte do seleto grupo de especialistas -entre os quais o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e o professor de Harvard Kenneth Roggoff- que publicaram, no ano passado, o artigo "Rethinking Central Banking". O artigo inspirou mudanças na atuação das autoridades monetárias, ao defender que devem se preocupar não apenas com a inflação mas também com o crescimento econômico e a regulação do sistema financeiro. Ontem, em palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso, Eichengreen repetiu a recomendação e disse que isso requer dos bancos centrais cada vez mais transparência em suas decisões. "Nesse cenário, os bancos centrais têm que atuar para reforçar a sua independência", disse. FORA DE MODA Eichengreen admite, entretanto, que o Brasil deixou de ser o queridinho dos investidores estrangeiros. Mas afirma que a mudança é positiva para o país. "Eu acho que não é bom para o Brasil ser tão atrativo para os investidores estrangeiros", afirmou. O Banco Central divulgou ontem que o saldo de dólares no país está negativo em US$ 1,9 bilhão em julho. Até a sexta-feira passada, houve mais saída do que entrada de moeda estrangeira no país, inclusive de investidores no mercado financeiro. Até junho, o saldo ficou positivo em US$ 22,9 bilhões - 42% menor do que o do mesmo período de 2011. O novo humor do estrangeiro com o Brasil, diz Eichengreen, é reflexo do menor crescimento da economia brasileira. "Os investidores deram uma parada para reavaliar e se perguntam: 'Por que investir numa economia que cresce 1,5% e não em outra que vai melhor'?" O lado positivo dessa mudança, afirma ele, é que o movimento provoca uma desvalorização adicional da moeda brasileira ante o dólar, que tem efeito benéfico para as exportações. Além disso, ajuda a diminuir os custos de produção em dólar, que ficaram muito elevados nos últimos anos com a valorização do real. Para Eichengreen, mesmo com menos brilho, o Brasil seguirá recebendo recursos, principalmente de europeus para o mercado de ações. |
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Fonte: Folha de S.Paulo |
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