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Lembro-me bem da primeira reunião com a equipe de desenvolvimento para o SPED do Grupo Coldwell. Começamos assim: escrevi a palavra “SPED” na lousa e pedi para cada membro da equipe escrever em uma folha de papel o que achava que significava essa sigla. Foi no mínimo divertido.
O pessoal escreveu as coisas mais engraçadas do mundo. Tínhamos um consultor funcional, que era um contador bastante experiente, que escreveu: “Serviço de Procuradoria Especializada em Diagnósticos”. Nós rimos muito juntos!
Era 2007 e ninguém havia lido nada sobre o Sistema Público de Escrituração Digital ou SPED. Se um contador com 25 anos na área não sabia o que o governo brasileiro queria, imaginem só uma equipe de desenvolvimento na faixa de 20 a 25 anos de idade, mais interessada na nova versão de Microsoft Visual Studio, em discutir se o Linux ia acabar com o Windows e em criar comunidades engraçadas no velho Orkut. Não existia Facebook ainda...
Um projeto SPED supera o conhecimento técnico de ferramentas de desenvolvimento, amplia nossa visão de aglutinar dados de áreas complexas como contábil, fiscal e previdenciária, além de lidar com interfaces, integrações de bancos de dados e transferências de arquivos TXT e XML.
É necessário concentrar a atenção em lay outs enormes! Os do SPED do PIS/Cofins podem chegar a mais de 1,8 mil campos que compõem arquivos de alto volume, em alguns casos tendo que ser fracionados devido a ter 1GBytes ou mais.
Tive a oportunidade de trabalhar em projetos de desenvolvimento de SPED de clientes com dezenas e, em alguns casos, com centenas de filiais e um volume superior a 6 milhões de notas fiscais. Para se ter uma idéia, o arquivo texto desse cliente supera mais de 15 milhões de linhas ou quase 4 GBytes de dados por mês, em uma rotina de geração de duas horas de processamento, numa máquina de quatro processadores, coisa grande mesmo!
O segredo de um projeto SPED, seja Contábil, Fiscal, FCONT (Controle Fiscal Contábil de Transição), PIS/Cofins ou qualquer outro, é manter a aderência e integração entre os dados dos sistemas legados, ERP e outras fontes como planilhas Excel e o arquivo final. Para resolver esse dilema de o que vai para qual arquivo, criamos um índice de DEPARA entre a NF-e 2.0 (Nota Fiscal Eletrônica) e todos os arquivos SPED.
Fica mais fácil compor uma documentação de qual SPED contém o que, sim os dados de um SPED se repetem em outro e assim por diante. Por exemplo: O SPED Fiscal contém dados de capa e itens de notas fiscais eletrônicas e manuais que são os mesmos usados no SPED do PIS/Cofins – falo dos blocos C170 e C190 do layout. O SPED Contábil detém registros de saldos contábeis mensais de contas de despesa e receita que são os mesmos do FCONT, sendo os blocos I200 e outros.
A grande armadilha para uma equipe de desenvolvimento é que os lay outs não são fixos ou obrigatórios em sua totalidade. Nem todos os campos e blocos devem ser preenchidos por todos os clientes. Em lay outs como o do SPED Fiscal, existem campos para ECF, cupom fiscal. Se sua empresa ou cliente não emitem, então esse campo não deve ser preenchido. No caso do SPED PIS/Cofins, se não houver crédito presumido de impostos, determinados campos também não devem ser preenchidos e por aí vai a “encrenca”.
Esses casos devem seguir um rígido controle de mapeamento e DEPARA, que serão de qualidade superior se a equipe de desenvolvimento dispuser do apoio de um consultor funcional ou contador com “tarimba” em desenvolvimento de softwares para contabilidade e área fiscal.
Outra grande ajuda a um projeto desse tipo são os vários blogs que encontramos na internet, onde destaco já o do Professor Roberto Dias Duarte (www.robertodiasduarte.com.br) e do José Adriano (www.joseadriano.com.br), ambos profissionais muito requisitados e experientes no SPED.
Sempre quando converso com uma equipe de desenvolvimento destaco o valor de ter um código bem comentado, detalhes fazem a diferença em grandes projetos com equipes diversas, às vezes são necessárias mais de uma plataforma. Trabalhei em projetos com até três ambientes diferentes (ABAP4, .NET e Java), verdadeiras “saladas técnicas”, e a salvação eram bons comentários nos códigos e uma documentação completa de funções, conexões e rotinas de atualização, regras de negócios de validação e geração.
Esse parágrafo parece “pregação de professor de lógica”, mas, é isso aí: “Gente, comentem o código!”, vocês já ouviram isso, não é?!
Nenhum projeto SPED é bem-sucedido sem ter uma boa equipe de implementação. Esse time tem de ser parceiro do time de desenvolvimento e fazer uma boa interface com o cliente ou área de negócios. Certos detalhes sobre o SPED só podem ser aprendidos na prática, assim a cada novo cliente ou projeto, você e sua equipe aprenderão mais uma lição, mais um “macete” ou modo diferente de implantar e atender o SPED.
Em resumo, nunca vi um projeto de SPED sem um bom trabalho em equipe, todo bom desenvolvedor conhece a diferença entre o herói e o mocinho nos filmes: o herói sempre “morre” no final.
Pra contar o final da minha odisséia com o SPED, posso dizer que apenas começou... Esse ano teremos o novo eLALUR, depois o SPED Social e por aí vai.
Ricardo Gimenes, sócio-diretor do Grupo Coldwell
Fonte: TI Inside
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