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Por Nádia de Assis
O tema "Governança com Foco na Estratégia" ancorou as discussões da primeira
edição 2015 do Desafios da Gestão. O encontro, que aconteceu em Belo Horizonte
na terça-feira, recebeu como convidado especial o conselheiro e professor de
Direito Empresarial, Tiago Fantini Magalhães. Representantes de empresas
mineiras também estiveram presentes no evento, realizado na Casa Una, espaço
instalado no bairro Lourdes (região Centro-Sul), e apresentaram experiências e
pontos de vista sobre o assunto.
Magalhães iniciou a discussão com dados de uma pesquisa divulgada pelo Serasa
Experian no início deste mês. Ela mostra que, no primeiro quadrimestre de 2015,
os pedidos de recuperação judicial aumentaram 8,2% na comparação com o mesmo
intervalo de 2014. Somente em abril, foram 98, o que representa um novo recorde,
superando a quantidade registrada em outubro de 2013.
Na visão dele, esses números revelam um cenário preocupante e evidenciam que as
empresas brasileiras não estão conseguindo, por meio da estratégia atualmente
adotada, superar a corrente crise financeira. Ele ressaltou que as práticas de
Governança podem ajudar as organizações a enfrentar períodos menos favoráveis,
sem que elas comprometam a sua essência ou a qualidade dos produtos e serviços.
O professor universitário Haroldo Márcio Ines salientou que, em períodos mais
conturbados, a tendência é de que a Governança ganhe mais importância. Contudo,
ele pondera que, passadas as dificuldades, o foco pode mudar e, com isso, as
práticas de Governança deixam de ser prioridade, o que pode prejudicar a
longevidade dos negócios.
O diretor de controladoria da Localiza, Edmar Paiva, afirmou que as empresas
devem, desde o começo, estar preparadas para exercer a Governança. "Ela não
nasce da noite para o dia e precisa estar enraizada na cultura da empresa,
partindo da alta administração", analisou.
Hoje, de acordo com ele, mais de 70% do capital da Localiza estão pulverizados
no mercado, o que faz com que a Governança seja ainda mais fundamental. "Uma
estrutura completa, detalhada, com qualidade, transparência, equidade, prestação
de contas e um conselho de administração independente gera valor para os
acionistas", disse.
Reassumindo o controle - A diretora de Recursos Humanos e Comunicação da Forno
de Minas, Hélida Mendonça, ressaltou que, ao longo dos 10 primeiros anos da
empresa, havia uma preocupação com a profissionalização, mas ainda não incluía
planejamento estratégico ou Governança. A empresa passou a atribuir mais atenção
à Governança a partir de 2009, quando a família Mendonça reassumiu o controle da
fábrica e da marca após um afastamento de 10 anos.
"Para nós, tudo ainda é novo. Mas, a partir do momento que se tem um conselho
fiscal, de administração e auditoria, a responsabilidade e a cobrança aumentam,
o que nos obriga a ser ainda melhores", pontuou a executiva. A maior aposta em
Governança já gera resultados. Ano passado, o crescimento registrado pela Forno
de Minas foi de 40% frente a 2013 e, segundo Hélida Mendonça, as metas previstas
para o primeiro trimestre deste ano superaram as expectativas.
Desdobramentos da implementação do processo são cruciais
Os empresários bem-sucedidos são realistas mas, ao mesmo tempo, sabem pensar de
forma diferente e têm consciência do quanto é importante implementar mudanças.
Para o conselheiro independente Marco Aurélio Rodrigues, os grandes líderes à
frente das organizações precisam acreditar e comprar a ideia por trás da
Governança. "A partir do momento que esse processo começa, é necessário
equilibrar e saber a hora certa de dar cada passo", argumentou.
De acordo com ele, é importante trazer outros profissionais com experiência
dentro de um determinado segmento, para que eles possam oferecer outra visão e
consigam enriquecer a linha de pensamento. "A Governança acontece muito quando
há um conselho com um viés mais independente. A partir do momento que a
organização se propõe a direcionar decisões para terceiros, isso mostra que ela
realmente está disposta a tomar um caminho mais profissional."
"Quando se adota a governança, é inserido um Conselho com novas ideias. Elas
surgem naturalmente e proliferam em progressão geométrica"
Enio de Melo Coradi
Para o conselheiro e coordenador do capítulo Minas Gerais do Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Enio de Melo Coradi, a
democratização do poder nas empresas brasileiras normalmente encontra
resistência e, em geral, ocorre por necessidade em vez de espontaneidade.
"Quando se adota a Governança, é inserido um Conselho com novas ideias. Elas
surgem naturalmente e se proliferam em progressão geométrica", disse.
Dodora Resende, gerente da Ativas, empresa de Tecnologia da Informação (TI)
formada pelos grupos Asamar e Cemig, observou que o mais importante são os
desdobramentos da Governança, com ideias que partem dos níveis mais altos da
hierarquia mas, por fim, envolvem todos os membros da corporação. Para ela,
essas ideias podem ser traduzidas em metas simples e capazes de demonstrar o
valor da empresa para os seus clientes.
Novo foco - O diretor da Salum Construções, Marcus Salum, afirmou que precisou
mudar a cultura da sua empresa, quando o foco dos negócios passou a ser o
mercado privado em vez do público. "Esse é um mercado no qual se paga para
aprender. A partir disso, entendemos a necessidade de transformar a empresa, o
que foi feito com muita ajuda externa, mas sem seguir o modelo clássico da
Governança", disse.
"Entendemos a necesidade de transformar a empresa, o que foi feiro com muita
ajuda externa, mas sem seguir o modelo clássico de Governança"
Marcus Salum
Ele admite que, no começo, não acreditava muito no sucesso das mudanças mas,
felizmente, o efeito delas o surpreendeu. "O dono da empresa, normalmente,
conhece bem o negócio, mas isso não é suficiente. Portanto, é necessário outros
profissionais, que respeitem a direção, mas tragam essa modificação necessária",
complementou.
A Governança, na verdade, existe para ajudar a solucionar conflitos. Essa foi a
avaliação de Marcus Tofanelli, coordenador do IBGC, que questionou se a causa do
aumento das falências e recuperações judiciais não seria decorrente de conflitos
que, por falta de instrumentos de Governança, podem não ser adequadamente
resolvidos. "Precisamos questionar o quem vem primeiro, estratégia ou
Governança? A estratégia vem de um sonho e, e partir dele, define-se qual
caminho seguir e quais instrumentos são necessários ao longo dessa caminhada",
concluiu.
Próxima edição - A próxima edição do Desafios da Gestão acontece em julho, mas a
data ainda não foi definida. O tema será "Comunicação na gestão de crise com
foco em Marketing". O projeto é realizado pela Viper Gestão Empresarial e conta
com o apoio do DIÁRIO DO COMÉRCIO e da 22 Graus Comunicação e Marketing.
http://diariodocomercio.com.br/noticia.php?tit=governanca_corporati...
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