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Pioneiro em tecnologia e em levar empresas do zero a um faturamento milionário, Miguel Abuhab criou um sistema para simplificar a cobrança de impostos. Tudo isso fora do eixo Rio-São Paulo. O empresário, que mora em Santa Catarina, ganhou admiradores como o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy
Centenas de reuniões, apresentações, um site e um livro e mais de dez anos de carreira. Tudo isso foi necessário para que Miguel Abuhab conseguisse seu feito mais importante: criar uma ferramenta para combater o caos dos impostos brasileiros. Ideia que foi aplaudida de pé em um fórum do FMI no ano passado e considerada sem precedentes no mundo todo. “É o meu verdadeiro legado”, diz Abuhab, um empresário de sucesso que construiu a carreira utilizando sempre a mesma fórmula: simplificar e organizar.
Engenheiro mecânico recém-formado no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, São Paulo, Abuhab tinha menos de 25 anos quando começou a trabalhar na fabricante de eletrodomésticos Consul. Lá, percebeu que poderia aperfeiçoar os processos da companhia utilizando máquinas, então, monstruosas e complexas: os computadores. “Fui pioneiro em sistemas de gestão de empresas. Mas, não me sentia valorizado o suficiente. Então, fui para onde seria a estrela, minha própria empresa”, conta Abuhab, que é o caçula de oito irmãos.
A Datasul foi fundada em 1978. De fato, ele era a única estrela, já que era também o único funcionário em uma saleta com um sofá e uma mesa em Joinville, cidade catarinense ainda distante dos grandes centros comerciais. Quanto mais a informática e o uso dos computadores cresciam, mais a empresa aumentava. Em 2006, a Datasul faturava R$ 172 milhões por ano e atendia a 2,5 mil clientes quando entrou na bolsa de valores. “Fiquei rico e pude finalmente comprar um barco, meu sonho de infância!”, conta, bem-humorado. No mesmo dia, levou para casa R$ 370 milhões e um barco de 93 pés.
Mas, em vez de sair pela costa brasileira para pescar e aproveitar a fama de self-made man, o empresário resolveu investir em um segmento de sua empresa que ainda não dava lucro e que iria ser fechado pelos sócios: a NeoGrid, que criou um sistema automatizado de cadeia de suprimentos para o varejo para gerenciar estoque e produtos em falta. “Percebi que a tecnologia deveria ser usada para organizar e vi que havia ali uma nova oportunidade de negócio”, conta. Com isso, a NeoGrid se desvinculou da Datasul. Hoje, nove dos dez maiores varejistas brasileiros utilizam o sistema, que também chegou à Europa e aos Estados Unidos. Até o fim deste ano, a empresa pretende abrir o capital e estima-se que o valor de venda chegue ao mesmo patamar do que foi alcançado com a Datasul.
DIAGNÓSTICO PRECISO
Conhecido por sua expertise em simplificar e organizar, Abuhab, em 2002, foi convidado informalmente pelo então governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), para resolver o problema da complexidade dos impostos no estado. Ele aceitou estudar o caso, quase como um passatempo. Percebeu que a solução não se encontrava em uma mudança no plano estadual, mas, sim, no federal. Baseando-se em teorias econômicas e olhando com lupa os impostos de circulação de mercadoria (PIS-Cofins), Abuhab analisou os efeitos indesejados que o sistema tributário acarreta para as empresas e para o país para tentar diagnosticar suas causas. “É como na medicina: se você ataca o problema errado, só piora a situação geral”, explica. Para ele, fatores como o imposto declaratório (cada um faz o seu) e um sistema de recolhimento que também depende do contribuinte acaba gerando inadimplência, informalidade e arrecadação ineficiente por parte do Estado. Sua solução para tudo isso chama a atenção por ser extremamente simples. Já que todas as movimentações fiscais passam necessariamente por contas bancárias, o empresário criou um sistema que cobra o imposto específico de cada transação e transfere automaticamente o valor para a União.
Com isso, desaparecem as complicações do dificílimo sistema tributário nacional, segundo ele, repleto de erros e de redundâncias. Abuhab chegou a essa fórmula em outubro de 2003. Apresentou para o governador Luiz Henrique e, nos próximos anos, levaria a ideia para ministros da Fazenda como Antonio Palocci e Guido Mantega, além de mostrá-a para empresários. O entusiasmo era geral, mas nada nunca saía do papel. “Faltava vontade política. Não posso acusar, mas toda essa bagunça é boa para certos grupos”, diz. Abuhab se encheu de esperanças quando o amigo Luiz Henrique, já senador, marcou uma reunião para falar sobre o assunto com o então ministro da Fazenda Joaquim Levy. O peemedebista Luiz Henrique sofreu um infarto e morreu na véspera do encontro. Outro parlamentar catarinense, Paulo Bauer (PSDB), tomou a frente do assunto e levou o tema para a mesa de Levy. Somente para, duas semanas depois, ver o ministro ser substituído por Nelson Barbosa – e tudo voltar à estaca zero. Em artigo escrito em 2016, Joaquim Levy ressaltou: “A iniciativa de Miguel Abuhab é uma contribuição extraordinária, realista e inovadora para o bem-estar da nossa gente”.
Mesmo fora do governo, o apoio do ministro foi essencial, e o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB), relator da reforma tributária, chamou Abuhab para aplicar a mudança no próximo texto que deve ser aprovado ainda este ano. “É essencial. O governo reduzirá a sonegação e as empresas vão diminuir seus custos administrativos”, declarou o deputado. Depois de quase quatro décadas simplificando e ajudando empresas a se organizar e a crescer, Miguel Abuhab diz que, dessa vez, não ganha nada além da satisfação pessoal. “Se der certo, eu fico muito feliz. A vida tem de ser dignificante. Talvez pareça algo técnico demais, mas tenho certeza de que vai ajudar a melhorar a vida de muita gente”, afirma.
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