Blog da BlueTax moderado por José Adriano
Blog da BlueTax
Outubro marca o aniversário da Constituição Federal do Brasil, que celebra 31 anos. Nessas três décadas desde a redemocratização, foram editadas mais de 6 milhões de normas de Norte a Sul do país. Estudo do IBPT – Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação revela números impressionantes do Direito brasileiro ("Quantidade de Normas Editadas no Brasil").
Este acompanhamento é feito anualmente pelo IBPT, que não se surpreende com os dados. Acerca do recente estudo, Gilberto Luiz do Amaral, coordenador do Instituto, é categórico ao asseverar que a principal conclusão é que a enorme quantidade de normas e a sua constante modificação gera insegurança jurídica tanto às empresas quanto aos cidadãos.
“A maioria da população, dos empreendedores e dos profissionais, inclusive os do governo, não sabe ao certo quais são as normas que estão efetivamente em vigor. Isto dificulta sensivelmente a vida das pessoas, desanima os empreendedores, aumenta a informalidade e atrapalha o ambiente de negócios. Nos surpreende o fato dos governos e legislativos não fazerem nada para atenuar esta avalanche de normas.”
A judicialização acaba sendo uma das nefastas consequências, pondera Amaral: “A miríade de normas resulta na quantidade estratosférica de demandas administrativas e judiciais. A falta de compilação e clareza das normas permite uma multiplicidade de interpretações, desaguando nas Cortes administrativas e judiciais, e, inclusive, gerando julgamentos contraditórios.”
Matéria tributária
O estudo do IBPT aponta que em matéria tributária foram editadas 403.322 normas - são mais de 2,14 normas tributárias por hora (dia útil). Em 31 anos, houve 16 emendas constitucionais tributárias. A análise qualitativa desses dados mostra que a maior parte dos tributos sofreu uma majoração.
“É algo que fica claro quando observamos o histórico das normas tributárias do país, pois em quase todas as vezes que nossos legisladores trataram de tributos, foi para majorá-los, tentando aumentar a arrecadação”, ressalta o coordenador do estudo e presidente do Conselho Superior do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral.
O advogado Eduardo Salusse, do escritório Salusse, Marangoni, Parente e Jabur Advogados, resume em dois pontos as dificuldade em termos de normas tributárias no Brasil: (i) a quantidade de normas e (ii) a baixa qualidade delas, que potencializa o problema.
“As normas, a despeito da quantidade, são malfeitas. São vagas, imprecisas, com conceitos abertos, e isso dá margem a interpretação divergente e gera contencioso. E é esse cenário que talvez justifique o grande apelo da sociedade e do país em falar de reforma tributária.”
De acordo com o estudo do instituto, os municípios brasileiros são responsáveis por quase 60% das normas tributárias editadas nesses 31 anos de vigência da CF/88. Não é à toa, ponderou o advogado, que há verdadeiras “pérolas” na legislação – como município que editou norma “alterando” a Constituição e decreto municipal que “proibia morrer”:
“O Brasil é o país mais descentralizado do mundo em competência tributária, e evidentemente isso submete o Legislativo a uma volúpia em intensidade que é impossível acompanhar.”
Recentemente, o relatório do Banco Mundial “Doing Business” revelou uma melhora no ambiente de negócios do Brasil. O levantamento leva em conta dez indicadores para analisar o cenário em 190 países, como o custo para se abrir um negócio e a dificuldade para obter eletricidade ou para pagar impostos. Apesar da melhora na nota, o Brasil caiu em posição no ranking (124º lugar), sendo ultrapassado por países como Uganda e Egito.
Ao lembrar a rapidez com que a sociedade evolui atualmente, especialmente em áreas como tecnologia e economia digital, Eduardo Salusse destaca que a grande dificuldade é submeter essa nova realidade à uma legislação estagnada no tempo.
“A lei sempre corre atrás do fato novo. Os municípios e Estados, na disputa eterna de buscar para si o maior número de competências tributárias possíveis, editam normas sem parar. Acredito sim que essas reformas [PEC 45 e PEC 110] vão caminhar, mas se não for simplificação ampla, ao menos ela irá ocorrer.”
De todo modo, prossegue o causídico, os advogados ficam absolutamente carregados de tentar, pela via da interpretação, adequar a situação concreta à realidade – com técnicas como a reinterpretação ou mutação constitucional, com a mudança do sentido da lei sem mudar o texto.
“Dentro de uma realidade de reforma tributária, se pudermos simplificar e vivermos num país com menos dúvidas, o advogado tributarista vai se reinventar – orientar o cliente em como fazer negócio, reorganizar a empresa, um papel equivalente a outros advogados no países desenvolvidos.”
Até lá, afirma Gilberto do Amaral, contribuintes e empresários são atormentados por normas tributárias “que são verdadeiras ‘pegadinhas’”. “Além de contraditórias, mal redigidas e de crescimento exponencial, elas são feitas, conscientemente, para vilipendiar o patrimônio e renda do cidadão”, conclui o coordenador do IBPT.
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI313899,11049-Brasil+tem+ma...
© 2024 Criado por José Adriano. Ativado por
Você precisa ser um membro de Blog da BlueTax moderado por José Adriano para adicionar comentários!
Entrar em Blog da BlueTax moderado por José Adriano